Uma leve brisa faz balançar a Memória, que inerte, parece não mais ter
vida. O Vento estava sempre a soprar, num esforço quase inútil de fazer a
Memória recuperar o Tempo perdido. Mas o Tempo estava sempre muito apressado e
cada vez passava mais depressa. A Memória abria a janela de seu pensamento, na
esperança de que o Tempo percebesse que ali ainda havia uma luz que não se
apagara, apenas tremeluzia fraca e cansada. Muitas vezes o coração da Memória
se emocionava com alguma lembrança que o Tempo deixava cair, ao passar
distraído pela estrada da vida. Nada mais do que isso. Quanto mais pensava no
Tempo, mais a Memória se tornava fraca e cansada. Se pelo menos o Tempo fosse
conhecedor de todas as lembranças que habitavam a Memória e que estavam
submersas no mais profundo do seu ser, talvez se compadecesse dela e soprasse
em seu ouvido as canções já esquecidas, que apenas faziam eco em seu
pensamento, mas não se faziam ouvir. Com estes tristes pensamentos, a Memória
adormeceu e sonhou todos os sonhos que esquecera de sonhar e que o
Tempo, na sua pressa,a impedira de realizar.
Débora Benvenuti
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