A FLOR DE PAPEL

 



Quarenta semanas,

gravidez acabando,

sinais estranhos

me incomodando.

Vejo estrelas piscando,

a vista ficando nublada,

me sinto cansada,

desço as escadas,

embarco no carro,

dirijo apressada,

porque sei que as crianças

pela professora estão esperando.

Quando chego à escola,

já não enxergo quase nada,

pelas paredes vou-me segurando.

Durante a aula percebo

que a situação está piorando.

Aula acabada,

volto para casa.

No trânsito só observo,

vultos se movimentando.

Chego em casa ainda mais cansada,

a dor na cabeça me importunando.

No meio da tarde

procuro pelo médico

e pelos sintomas ele percebe

a pressão aumentando,

diz que não há tempo a perder

e precisa tirar a criança,

senão a esperança

de ver meu filho nascer,

irei perder.

Na maternidade percebo,

que há muito pouco a fazer,

mesmo assim me alegro

de ver tantas rosas

enfeitando as portas dos quartos,

onde mais um bebê acaba de nascer.

Imagino o meu quarto,

como deve ficar florido,

quando o meu bebê nos braços,

estiver comigo.

Na sala de parto,

a cirurgia é arriscada,

percebo a pressa

com que o médico

os instrumentos

pede à assistente trazer.

A anestesia é dolorida,

sinto a dor do corte

que o médico acaba de fazer.

Depois o silêncio...

Não tenho coragem de perguntar

como está o meu filho

que acaba de nascer.

Ouço uma voz distante me dizendo,

é uma menina,

está tudo bem,

salvamos a criança

e você também!

No quarto percebo com mais clareza

como é pequena

a minha princesa,

e quanto é linda

aquela rosa azulada,

de papel desbotado

que acabo de receber...

 

 

 

Débora Benvenuti

 

Esta é a minha filha com uma rosa azul tatuada

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