Há pouco mais de um ano, eu bati a minha perna, na altura da coxa, na quina de uma mesa de vidro. A dor foi tão intensa, que pensei ter rompido alguns ligamentos. Procurei a UPA (unidade de pronto atendimento) do meu bairro e a médica que sempre me atendia me receitou Ibuprofeno (anti-inflamatório) e uma pomada para reduzir a dor e caso não houvesse melhora, me disse para voltar. Um ano se passou e eu bati novamente a mesma perna na quina de mesa de vidro da minha cozinha. Como já sabia o que fazer, tomei novamente o medicamento recomendado pela minha médica. Parecia que havia ficado tudo bem, porém dois meses depois, a dor voltou. Fiz o mesmo procedimento, só que o Ibuprofeno me causou efeitos colaterais (tontura). Nesse momento, eu mal podia caminhar, tal a dor que sentia quando colocava o pé no chão. Resolvi consultar novamente e ao chegar à UPA, fiquei sabendo que a minha médica havia passado todos os pacientes para um “Excelente”médico que havia chegado (não vou dizer de onde). Fiquei um pouco apreensiva, mas acreditei que no mínimo o médico me pediria uma radiografia. Quando o médico abriu a porta do consultório, mal conseguindo soletrar as letras do meu nome, percebi que a situação não ia ser fácil. Ele sentou-se a minha frente e ficou esperando, Então me levantei da cadeira, indiquei a quina da mesa e demonstrei que havia batido a coxa dessa forma e dei alguns passos arrastando a perna. Pensei que desta forma, até um cego iria entender. Ele então puxou o receituário e me indicou Ibuprofeno para tomar. Disse a ele que este medicamento eu não podia tomar. Nesse momento, ele amassou o receituário e eu sugeri a ele que lesse o meu prontuário. Ali continha tudo o que ele precisava saber. Ele então copiou todos os exames que eu costumava fazer e acrescentou mais um, que eu só fui perceber quando peguei a autorização para fazer os exames.A radiografia ele nem me pediu, mas solicitou um exame de “sífilis”.No laboratório, disse à atendente que achava muito estranho ele ter solicitado esse exame. Eu só precisava de uma radiografia. Foi então que fiquei sabendo que o tal médico vinha de um país onde a maior parte da população sofre desse mal. Comentei com a atendente que o médico estava onerando o estado, solicitando exames desnecessários. Alguns dias depois, eu enrosquei a perna numa cadeira de praia, perdi o equilíbrio, cai e quebrei o fêmur.
O enfermeiro que me conduziu na ambulância após eu ter feito a radiografia, me perguntou se podia fotografar, porque ele nunca tinha visto uma fratura daquele porte. O meu fêmur rotacionou 45 graus (ficou virado para o lado) e quebrou de forma grotesca. O médico que me operou me perguntou como eu havia conseguido tamanha façanha. Eu ia dizer para ele que aquela fratura era o resultado de um exame de sífilis que um médico sem fronteiras havia me solicitado, mas preferi dar uma desculpa qualquer, porque com certeza, ele não iria acreditar.
Débora Benvenuti
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